v. 21 n. 3 (2001): Jul-Sep / 2001


v. 21 n. 3 (2001)

Jul-Sep / 2001
Publicado em julho 1, 2001

Artigo


Reestruturação Industrial Brasileira nos Anos 90. Uma Interpretação
Antonio Barros de Castro
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572001-1251

A indústria brasileira sofreu profundas mudanças nos anos 90, embora não seja fácil ter uma visão sintética e abrangente da transformação. Para ter essa visão, é preciso levar em consideração a forte influência dos anos de alta inflação (até meados de 1994). A estabilização e a supervalorização (do real) nos anos seguintes ao lançamento do Plano Real foram outra influência decisiva. O artigo argumenta que, submetida a esse conjunto de eventos condicionantes, a indústria brasileira passou por uma recuperação (limitada) durante os anos noventa. Ele também tenta mostrar como o progresso se concentrou principalmente no nível do avião - tanto em empresas industriais multinacionais quanto nas domésticas.

Classificação JEL: L11; L16; L20.


Aglomerações Industriais como Focos de Políticas
Wilson Suzigan
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572001-1253

Este artigo, escrito para um discurso, está dividido em duas partes. A primeira parte revisa a literatura sobre clustering industrial, com foco nas implicações políticas. Argumenta que a complexidade teórica, que dificulta a formalização do assunto, e a falta de trabalho empírico não autorizam argumentos simplistas a favor ou contra intervenções políticas. Por essas razões, as implicações políticas ainda não são totalmente exploradas na literatura. A segunda parte do artigo sugere uma agenda de pesquisa para o estudo de aglomerados industriais no Brasil, incluindo a produção de evidências estatísticas, trabalho empírico e estudos de caso como base para a elaboração de diretrizes de políticas. 

Classificação JEL: L60; O33; R23; R32.


A reforma do Banco Central e superação do problema de risco moral: o caso do Brasil
Lourdes Sola, Christopher da Cunha Bueno Garman, Moisés S. Marques
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572001-1252

A suposição implícita de que os governos socorrerão instituições financeiras em dificuldades pode gerar incentivos negativos para o desenvolvimento de um sistema financeiro sólido. Este artigo parte da premissa de que esses incentivos negativos, que criam uma situação de risco moral, são essencialmente um problema político e não um problema técnico sobre a geração correta de incentivos institucionais. No caso brasileiro, argumentamos que o atual governo de Fernando Henrique Cardoso só conseguiu reduzir significativamente seu problema de risco moral no setor financeiro distanciando sua relação política com dois importantes atores políticos: o setor financeiro privado e os governadores estaduais. A capacidade do governo de eliminar a suposição implícita de um eventual resgate do Banco Central sobre bancos comerciais públicos e privados só foi possível através de uma série de condições políticas, que incluem o fim da hiperinflação sob o Plano Real, que reduziu a dependência do governo desses dois importantes atores políticos.

Classificação JEL: E58; E44; G21; G28.


Crescimento e segurança sob o capitalismo corporativo de bem-estar e socialismo de mercado
Myron J. Gordon
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572001-1256

Um sistema capitalista puro possui propriedade privada da riqueza e administração da economia via mercados. Como sistema socialista puro, encarou a propriedade e a administração por uma burocracia. Um oferece crescimento e insegurança, e o outro oferece segurança e estagnação. Na realidade, nem existe nem pode existir por muito tempo. As alternativas viáveis são o capitalismo de bem-estar e o socialismo de mercado. Nos últimos cinquenta anos, a transição do capitalismo do bem-estar para o capitalismo corporativo ocorreu no Ocidente sob a liderança dos EUA. Isso resultou no aumento da insegurança e desigualdade nos países ricos e entre países ricos e pobres. A transição do socialismo burocrático para o socialismo de mercado na China nos últimos vinte anos trouxe ao seu povo crescimento e prosperidade surpreendentes – e muitos dos males de uma economia de mercado. Resta ver se o socialismo de mercado na China é uma alternativa atraente ao capitalismo de bem-estar, ou não é mais que uma transição para o capitalismo corporativo. 

Classificação JEL: P51.


Introdução: Debates, Desempenho e as Políticas de Escolha Política
Carol Wise
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572001-1269

Apesar da ampla adoção de reformas de mercado na América Latina na última década, ainda não há consenso sobre o tipo de regime cambial que melhor complementaria um modelo econômico liberal. Embora tenha havido uma mudança distinta de taxas fixas para taxas flutuantes desde a crise do peso mexicano de 1994, a evidência empírica é ambivalente quando se trata de medir o sucesso das políticas em qualquer regime. À luz dessa ambivalência empírica, este artigo introdutório argumenta que uma linha de pesquisa mais frutífera reside na compreensão das lições de economia política que podem ser obtidas do ponto de vista do gerenciamento da taxa de câmbio. Isso implica, em primeiro lugar, um exame das pressões conflitantes que interesses especiais exercem sobre os oficiais de política para manter a taxa de câmbio em um determinado nível; e segundo, requer análise dos mecanismos institucionais mais amplos através dos quais a política monetária é mediada. O artigo sugere que o “sucesso” ou “fracasso” das políticas pode depender tanto da tenacidade e da política dos formuladores de políticas quanto dos aspectos técnicos da formulação de políticas macroeconômicas.

Classificação JEL: F31; F32; E60.


Regimes e Políticas Cambiais: Uma Visão Geral
W. Max Corden
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572001-1263

Este artigo apresenta os princípios econômicos gerais da política cambial e fornece uma visão geral dos quatro casos de países que foram incluídos nesta edição especial da revista: México, Brasil, Argentina e Venezuela. São discutidos três principais regimes monetários – o regime fixo, mas ajustável (FBAR), a taxa firmemente fixa e o regime de taxa flutuante. Ao mesmo tempo, o artigo distingue entre duas abordagens principais da política cambial: a abordagem da âncora nominal e a abordagem de metas reais. O autor identifica os custos e benefícios da implementação desses vários regimes cambiais através das diferentes fases da estabilização macroeconômica e do ajuste estrutural. Embora a dolarização tenha se tornado cada vez mais discutida como outra opção de política monetária na América Latina, o autor observa que essa tendência ainda é incipiente demais para ser abordada neste artigo.

Classificação JEL: F31; F32.


A quebra do peso mexicano: causas, consequências e recuperação
Timothy Kessler
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572001-1272

Este artigo traça as maneiras pelas quais fatores políticos, econômicos, domésticos e internacionais convergiram para provocar uma enorme crise financeira no México em 1994/5, bem como as consequências dessa crise para futuros esforços de reforma. O autor argumenta que a manutenção de uma taxa de câmbio supervalorizada antes da crise permitiu ao partido PRI apelar para uma ampla gama de interesses domésticos. Os investidores internacionais, que detinham sem precedentes US$ 34 bilhões em ações mexicanas em 1994, foram igualmente inflexíveis na defesa da taxa de câmbio ancorada. No entanto, ao tentar apaziguar interesses nacionais e estrangeiros, o governo Salinas perdeu o controle dos fundamentos macroeconômicos. Enquanto a combinação de um empréstimo multilateral maciço e a mudança para uma taxa de câmbio flutuante abriram o caminho para a rápida recuperação econômica do México, o principal legado da crise foi o fim político do PRI. Embora a liberalização política certamente não fizesse parte do plano original do PRI, graças a seus próprios imprudentes erros políticos, o principal legado da crise do peso foi o advento de políticas mais abertas no México. Por esse motivo, a política de formulação de políticas econômicas sob o novo governo Fox pode não estar tão bem organizada quanto estava com o PRI, mas já existem sinais sem precedentes de debate, prestação de contas e compromisso.

Classificação JEL: F31; F32; F62.


A crise monetária no Brasil: migrando da âncora cambial para o regime flexível
Eliana Cardoso
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572001-1274

O autor começa perguntando por que os formuladores de políticas brasileiros optaram por direcionar a taxa de câmbio para estabilizar a inflação quando essa estratégia já falhou no México. A resposta: não era mais possível acomodar a alta taxa de inflação do país através do uso generalizado da indexação de preços e de uma política competitiva de taxa de câmbio. Sob condições de inflação alta, a ancoragem da taxa de câmbio no Plano Real foi o caminho mais rápido para a estabilidade de preços. No entanto, o sucesso das políticas também exigiu um ajuste fiscal profundo, e a política tradicional brasileira resistiu obstinadamente às reformas tributárias necessárias. Em contraste com o México, onde a queda do peso foi alimentada por imprudentes gastos e empréstimos do setor privado, a desvalorização do Brasil em janeiro de 1999 foi desencadeada por déficits fiscais cronicamente altos. A rápida recuperação do Brasil sob um regime de moeda flexível sugere que os fundamentos macroeconômicos estão de volta aos trilhos; o desafio agora reside na elaboração de uma coalizão política viável a favor da reforma que possa romper os numerosos interesses paroquiais que convergiram para provocar a desvalorização de 1999.

Classificação JEL: F31; F32.


Currency Board da Argentina: os laços que unem?
Carol Wise
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572001-1273

Como o único país de mercado emergente da América Latina que aderiu firmemente a uma taxa de câmbio fixa por mais de uma década, este artigo examina as compensações econômicas e políticas que a paridade peso-dólar acarretou. Em termos econômicos, o conselho da moeda promoveu claramente a estabilidade macroeconômica e a prudência fiscal. No entanto, a manutenção de um regime de moeda fixa no contexto de fluxos voláteis de capital também contribuiu para a constante valorização do peso ao longo do tempo. Essa tendência, juntamente com certos acordos políticos (lenta reforma do mercado de trabalho e transferências generosas do governo para as províncias) ocorridas no início do programa de reformas, dificultou bastante a produtividade e o dinamismo da economia argentina. A fraca posição competitiva do país foi exacerbada pela desvalorização brasileira de 1999, e a lição desde então tem sido o quão difícil é formar uma coalizão política para enfrentar as formidáveis tarefas microeconômicas agora em mãos.

Classificação JEL: F31; F33.


Os estados de reformas defasadas e a questão da desvalorização: a reação da Venezuela aos choques exógenos de 1997-98
Javier Corrales
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572001-1270

Tendo acabado de completar sua segunda “década perdida” consecutiva, o caso venezuelano confirma que não há atalhos para uma boa gestão política econômica na era de alta mobilidade de capital e fluxos de capital securitizados. A manutenção de uma estratégia cambial atrapalhada triunfou, pelo menos por enquanto, e permitiu que uma coalizão de elite no nível executivo prevalecesse na busca de uma política macroeconômica menos do que ideal. O autor argumenta que a Venezuela evitou uma desvalorização total, do estilo mexicano ou brasileiro, em virtude da capacidade do Banco Central de gerenciar efetivamente a taxa de câmbio. No entanto, esse foi o único bolso da modernização, pois os formuladores de políticas de todo o resto da burocracia do estado rejeitaram os tipos de reformas de mercado que serão necessárias para reverter o desempenho altamente medíocre do país. Embora os altos preços do petróleo desde 1999 tenham proporcionado aos políticos e formuladores de políticas o “luxo” de ser um retardatário da reforma, os líderes venezuelanos parecem determinados a aprender da maneira mais difícil que as tendências internacionais podem voltar a balançar contra eles a qualquer momento.

Classificação JEL: F31; F32; E31.


A Política de Gestão da Taxa de Câmbio nos anos 90
Riordan Roett
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572001-1249

Os quatro países estudados neste ensaio apresentam as três principais opções de política cambial disponíveis para as nações da América Latina. Esta nota conclui os estudos dando uma perspectiva da discussão.

Classificação JEL: F31; F32.