v. 16 n. 3 (1996): Jul-Sep / 1996


v. 16 n. 3 (1996)

Jul-Sep / 1996
Publicado em julho 1, 1996

Artigo


O financiamento à infra-estrutura e a retomada do crescimento econômico sustentado
Márcio G. P. Garcia
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571996-0910

Diferentemente dos ciclos de crescimento anteriores no Brasil, o novo que completará
o plano de estabilização do Real não pode mais contar com o Estado como o
principal financiador e responsável pelos investimentos em infraestrutura. Isso representa
uma tendência mundial, que originou o financiamento do projeto, uma maneira de financiar
pesados investimentos projetados para viabilizar a parceria público-privada. O
financiamento do projeto separa o risco firme do risco comercial e projeta arranjos financeiros
específicos para cada projeto de investimento. No Brasil, agora que a lei que regula
a concessão ao setor privado foi promulgada e o programa de privatização foi acelerado,
o financiamento do projeto provavelmente constituirá o principal procedimento de financiamento
para investimentos em infraestrutura. Para que o financiamento do projeto
funcione, o ambiente regulatório deve ser claro e os contratos devem ter credibilidade,
impedindo que o setor público seja esquecido, forçado a resgatar projetos insolventes. É
apresentada uma nova proposta para o sistema BNDES – um seguro contra o risco macroeconômico
nas operações de crédito. Esta proposta visa a construção de um mercado
de crédito de longo prazo no Brasil.

Classificação JEL: H30; O40.


Orçamento e democracia
Paul Singer
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571996-0935

Este ensaio começa com uma histórico das relações entre orçamento e democracia, desde a aurora do estado moderno e do liberalismo até hoje. As várias ideologias orçamentárias - desde o dogma do orçamento equilibrado até o orçamento redistributivo do Estado do Bem-Estar Social - são examinadas. Passam-se em revista, a seguir, as práticas orçamentárias atuais, no contexto da tendência geral à descentralização, com o aumento da autonomia e dos recursos dos governos locais. A discussão culmina finalmente, na participação dos setores organizados da sociedade civil na elaboração e execução orçamentária, examinando-se alternativas ao predomínio dos interesses e grupais sobre o interesse geral.

Classificação JEL: H50; O20.


Respostas do setor privado para as políticas de liberalização econômica no Brasil: uma olhada no setor de bens de capital de São Paulo
Elizabeth McQuerry
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571996-0931

A tendência de concentrar-se unicamente na análise de indicadores macroeconômicos quando se estuda a liberalização econômica na América Latina levou a uma visão extremamente homogeneizante das experiências dos atores econômicos e a uma atenuação dos efeitos da liberalização sobre a representação política. Há também uma tendência geral de assumir que toda classe empresarial apoia essas políticas. Este estudo testa esses pressupostos examinando os efeitos da liberalização comercial sobre a indústria de bens de capital no Brasil, desde o final dos anos 80 até 1994. As respostas políticas à liberalização são também examinadas. De modo geral, os dados demonstram uma concordância generalizada em relação às políticas de liberalização, embora matizada por uma tendência reformista que busca fazer com que o novo paradigma econômico brasileiro seja mais palatável aos interesses da indústria, O modelo de resposta seletiva é proposto como uma estrutura teórica para estudar a dinâmica e o comportamento multifacetado do setor privado durante períodos de profundas transformações econômicas e políticas, como é o caso hoje, no Brasil.

Classificação JEL: F61; F62.


Sistema nacional de inovação no Brasil: uma análise introdutória a partir de dados disponívels sobre a ciência e tecnologia
Eduardo da Motta e Albuquerque
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571996-0891

A definição e o conceito de sistema nacional de inovação são resumidos e uma
tipologia (com três categorias) é sugerida para especificar a situação brasileira. O Brasil
está incluído na categoria de países que não tiveram seus sistemas científicos e tecnológicos
transformados em sistemas nacionais de inovação maduros. Essa hipótese é investigada
à luz dos dados disponíveis nas estatísticas básicas de P&D brasileiras: gastos com P&D,
cientistas e pesquisadores empregados, produção científica e patentes concedidas a residentes
no Brasil. São feitas comparações internacionais e dois exercícios são realizados para
testar a “eficiência” no uso de recursos de P&D como insumo na produção de artigos
científicos e na concessão de patentes (ambas vistas como produto de P&D). Em conclusão,
argumenta-se que existe uma questão metodológica quando se pretende aplicar o conceito
de sistema nacional de inovação a países semi-industrializados como o Brasil.

Classificação JEL: B52; O30.


Análise da transmissão de preços internacionais de suco de laranja para preços ao nível de produtor de laranja no Estado de São Paulo
Mario Antonio Margarido
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571996-0906

Neste estudo, a elasticidade de transmissão de preços entre as indústrias de suco
de laranja concentrado congelado (SLCC) e o preço recebido pelos produtores de laranja
no Estado de São Paulo, Brasil, foi analisada para o período de julho de 1980 a junho de
1992. A principal hipótese é que a elasticidade era menor que uma antes de 1986/1987
e igual a uma a partir dessa safra, devido ao uso de Contratos de Participação entre as
indústrias e os agricultores. De acordo com esses contratos, o preço pago pelas indústrias
brasileiras de SLCC ao produtor de laranja deve levar em consideração as variações internacionais
de preço do suco de laranja. Essa hipótese foi estudada usando a média móvel
integrada autoregressiva (ARIMA) e modelos de função de transferência.

Classificação JEL: Q13; Q17.


Política comercial e inserção internacional da Argentina para os anos 90
Marta Bekerman, Pablo Sirlin
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571996-0929

Levando em conta o contexto internacional, o debate teórico e as lições que
podem ser extraídas de países bem-sucedidos, o artigo examina a base da política comercial
que deve ser seguida pela Argentina para obter uma inserção internacional dinâmica.
Ressalta-se que a política comercial poderia ser utilizada como instrumento de gestão
macroeconômica e microeconômica. Seu emprego como instrumento sub-ótimo pode ser
justificado quando os ótimos são restritos (por exemplo, o caso da política cambial na
Argentina). Também é enfatizado que é necessário seguir uma estreita coordenação entre as
políticas comerciais e industriais e tecnológicas para obter altos níveis de investimento nos
setores comercializáveis, um aumento da competitividade com base em níveis mais altos de
produtividade e uma melhoria no perfil de especialização. Por fim, destaca-se a importância
de melhorar a autonomia e a eficiência do Estado para garantir a efetividade das intervenções
públicas.

Classificação JEL: F13; O20.

Pequeno Artigo


Nota sobre o estado e o mercado
Adam Przeworski
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571996-0987

Este artigo discute a reforma do Estado sob dois aspectos: “o que o Estado deve
fazer” e “que tipo de Estado fornecerá apenas o que deve ser feito”. Primeiro, revisa a
história da relação Estado e economia, evidenciando a repercussão da teoria de mercados
incompletos e informações incompletas. A seguir, o artigo analisa três grupos de relações do
tipo “principal agente”: entre governos e agentes econômicos privados (regulamentação),
políticos e burocratas (supervisão) e cidadãos e governos (prestação de contas). A conclusão
é que o desempenho do Estado depende da estrutura institucional de todos esses mecanismos,
e que instituições bem estruturadas permitirão e induzirão o governo a intervir na
economia de maneira superior a um Estado não intervencionista.

Classificação JEL: H11; H61.


Uma nota sobre o aumento do gasto com pessoal da União
Fábio Giambiagi
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571996-0934

Este artigo mostra o aumento dos gastos relacionados à folha de pagamento do
governo federal brasileiro e ao pagamento de aposentados anteriormente empregados pelo
governo federal. Essa variável sofreu um salto de cerca de 2,5 pontos do PIB entre 1985 e
1995. Também é mostrada a evolução do valor agregado e a composição desse tipo de gasto
de acordo com os diferentes órgãos do governo (incluindo ministérios). Conclui-se que é
difícil reverter esse processo no curto prazo, principalmente em uma economia com baixo
nível de inflação.

Classificação JEL: H55.


A carga tributária trimestral no Brasil: 1991-1995 - nota metodológica
Fábio Giambiagi
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571996-0920

Esta nota descreve a metodologia do PIB trimestral medido a preços atuais e
permite calcular trimestralmente as receitas trimestrais do governo federal (excluindo o
Sistema de Seguridade Social) / PIB desde 1991. Os dados mostram uma análise mais ágil
da evolução das receitas fiscais. Mostra-se que, a partir de 1993, ocorreu um aumento inegável
da relação receita fiscal / PIB. Esse movimento continuou ao longo de 1995, apesar
do fim do Imposto Temporário sobre Transações Financeiras (IPMF). Consequentemente,
entre 1992 e 1995, as receitas fiscais do governo federal registraram um aumento de quase
3 pontos do PIB.

Classificação JEL: H20; H22.


Grupos de pressão e inflação: um modelo cíclico
Jorge Sabe Arbache, João Ricardo Faria
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571996-0892

Este texto apresenta argumentos segundo os quais as pressões de grupos organizados — mas que atuam de forma descoordenada — sobre as decisões de governo relacionadas a questões fiscais, provocam aumento da inflação, ao mesmo tempo em que propiciam a desorganização da economia. Esse último efeito impõe limites ao comportamento desses grupos. Um modelo do tipo “presa-predador” é utilizado para descrever a correção cíclica entre o nível de organização de tais grupos e a inflação.

Classificação JEL: E31; D72.


Trabalho improdutivo e crescimento de longo prazo. Um modelo clássico de acumulação
Alain Herscovici
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571996-0886

Este artigo pretende construir um modelo simples de acumulação, considerando
o conceito de crescimento desequilibrado entre o setor produtivo e o improdutivo. Isso
implica em definir teoricamente o conceito de setor improdutivo e estudar, a longo prazo, a
evolução desse setor em relação à totalidade do valor criado, bem como analisar as implicações
dessa evolução em relação à taxa de lucro e a taxa de acumulação. Pelo fato de levar
em consideração vários modos de distribuição da produtividade do trabalho, esse modelo
permite analisar as diferenças existentes entre os países centrais e a periferia.

Classificação JEL: O40; B51.