v. 43 n. 2 (2023): Abr-Jun / 2023


v. 43 n. 2 (2023)

Abr-Jun / 2023
Publicado em maio 10, 2023

Artigo


Uma interpretação da economia brasileira a partir da taxa de lucro: 1950-2020
Adalmir Marquetti, Eduardo Maldonado Filho, Alessandro Miebach, Henrique Morrone
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3432

O artigo apresenta uma interpretação para a economia brasileira entre 1950 e
2020. O elevado crescimento no desenvolvimentismo, 1950-1980, e a grande estagnação
no neoliberalismo, 1980-2020, são analisados a partir da taxa de lucro e seus componentes:
a parcela dos lucros, a produtividade do capital e o nível de utilização da capacidade
instalada. A queda da taxa lucro devido ao declínio da produtividade do capital resultou
na redução da taxa de acumulação de capital e do crescimento econômico. No período
1980-2020 houve quebra estrutural na relação entre investimento produtivo e lucro com a
adoção do neoliberalismo. A mesma taxa lucro resultava em menor acumulação de capital.
A grande estagnação é explicada pela queda da lucratividade a adoção do neoliberalismo.

Classificação JEL: E25; N16; O30.


A crise argentina de 2018: antecedentes e interpretação
Carlos Henrique Horn, Luiza Pecis Valenti, Ben-Hur dos Santos Petry
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3398

Este artigo aborda a crise econômica argentina de 2018. Sustentamos que a
crise foi ocasionada por um processo de fragilização financeira diretamente relacionado
às opções de política econômica do governo Macri, que acabou por se manifestar num
momento de reversão do cenário externo em 2018. Em nossa análise, reunimos evidência
empírica sobre a performance macroeconômica argentina e buscamos, na literatura teórica
sobre os conceitos de assimetria de poder no sistema monetário e financeiro internacional
e de vulnerabilidade externa, combinados à noção de crise de parada súbita, uma
interpretação para a crise daquele país.

Classificação JEL: E32; G01; H12.


Efeitos do crescimento do bem-estar multidimensional na pobreza e desigualdade do Brasil no período de 2004-2008 e 2016-2019
Otavio Junio Faria Neves, Ana Márcia Rodrigues da Silva
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3428

Por meio deste trabalho objetiva-se analisar os efeitos do crescimento do bem-
-estar multidimensional na pobreza e desigualdade do Brasil nos períodos de 2004-2008
e 2016-2019. Empiricamente, são utilizadas as metodologias de Kakwani e Pernia (2000),
Kakwani, Khandker e Son (2004) e a decomposição de Shapley. Os resultados mostraram
que houve diminuição da pobreza multidimensional entre 2004 e 2008 e um aumento
entre 2016 e 2019. O crescimento do bem-estar multidimensional no segundo período foi
antipobre. Com a decomposição constatou-se que, enquanto o crescimento do bem-estar
multidimensional contribuiu para a redução da pobreza entre 2004 e 2008, entre 2016 e
2019 a concentração contribuiu para a elevação da pobreza.

Classificação JEL: I31; I32; O11; P46.


Economia verde e empregos verdes: uma análise multissetorial por meio da matriz de contabilidade social da Espanha
Omar Chabán-García, Antonio Luis Hidalgo-Capitán
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3380

Durante as últimas décadas a economia verde tem sido proposta por diversos
organismos internacionais como um modelo econômico para o século XXI que gravita em
torno do respeito ao meio ambiente. Este artigo tenta identificar, com critérios de eficiência
econômica (alto impacto econômico) e eficiência social (alto impacto na geração de
empregos, empregos verdes), os “setores potencialmente verdes” que podem ser estimulados
por uma estratégia nacional para desenvolver uma economia verde na Espanha. Para isso,
utilizaremos a Matriz de Contabilidade Social da Espanha 2010, identificando, por meio
dos coeficientes de absorção e difusão normalizados e por meio de multiplicadores de
emprego, os setores-chave, impulsionadores e com maior capacidade de criação de emprego
de um grupo de dez setores que identificamos como “setores potencialmente verdes”.

Classidicação JEL: B41; C67; J08; Q57.


A década de prosperidade de 2004-2013 e o novo desenvolvimentismo
Demian Fiocca
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3454

Desde os anos 1990, a economia brasileira passou por três fases marcadamente distintas:
13 anos de quase estagnação (1991 a 2003); 10 anos de prosperidade (2004 a 2013); e
8 anos de declínio econômico (2014 a 2021). Importantes autores novo-desenvolvimentistas
apontam políticas introduzidas nos anos 1990 como causas da redução no crescimento. Este
artigo sustenta que, mesmo que tal hipótese esteja correta, é inadequado tratar os últimos 30
anos como uma única fase econômica. O trabalho também compara as políticas de 2004-
2013 com as recomendações desenvolvimentistas, concluindo que na maior parte são compatíveis.
Por fim, aponta mudanças ocorridas no contexto internacional e brasileiro entre os
anos 1970 e a atualidade, que reforçam a importância de analisar a experiência de crescimento
mais recente.

Classificação JEL: N1; B5; O54; N16.


Desindustrialização setorial e estagnação de longo prazo do setor manufatureiro brasileiro
Paulo César Morceiro, Joaquim José Martins Guilhoto
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3340

No Brasil e em outras partes do mundo, os diagnósticos de desindustrialização
estão concentrados na manufatura agregada, de modo que as políticas podem ser ineficazes
se a desindustrialização tiver um componente específico para o setor. Este estudo quantifica
e analisa a desindustrialização para os subsetores individualizados da manufatura. Para
tanto, foram criadas séries inéditas da participação dos subsetores da indústria no PIB
brasileiro de 1970 a 2016, com base em dados oficiais do IBGE. Os resultados mostram que
os subsetores da manufatura têm se desindustrializado em diferentes intensidades e períodos
de manufatura agregada, e uma abordagem subsetorial revela traços ignorados pela
literatura sobre a qualidade da desindustrialização. Concluímos que a desindustrialização
brasileira é normal (e esperada) para os subsetores manufatureiros intensivos em mão de
obra, mas prematura (e indesejável) para os subsetores intensivos em tecnologia. Portanto,
a desindustrialização brasileira tem consequências negativas para o futuro desenvolvimento
científico e tecnológico do país.

Classificação JEL: O14; L6; L16.


México: a Grande Depressão e a Coronacrise, 1929 e 2020
Eduardo Loría
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3388

Ao contrastar a Grande Depressão e a Coronacrise, demonstramos que a
economia narrativa (Shiller, 2017) é fundamental na análise das flutuações econômicas.
Notamos a importância da narrativa populista para entender os resultados econômicos e
de saúde da Coronacrise no México e destacamos o papel da predominância de diferentes
paradigmas econômicos na tomada de decisões de política econômica. Sugerimos que,
assim como em 1929, ao seguir políticas ortodoxas de balanço fiscal primário à custa de
contrair investimentos governamentais, a economia mexicana passará por um longo e
doloroso processo de recuperação em comparação com seus pares globais.

Classificação JEL: B22; E02; E32; E62; E71.


O financiamento do SUS no enfrentamento da pandemia de Covid-19
Rosa Maria Marques, Mariana Ribeiro Jansen Ferreira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3430

O Sistema Único de Saúde (SUS), desde sua criação em 1988, tem um histórico de
recursos insuficientes que permitam efetivamente garantir a universalidade e a integralidade
do cuidado. Seu subfinanciamento, derivado da ausência de apoio de parte da sociedade e de
políticas neoliberais assumidas por diversos governos nos anos 1990 e 2000, transformou-
-se em um efetivo desfinanciamento a partir da aprovação do “teto de gastos”, em 2016,
agravando as dificuldades estruturais do sistema. A pandemia de Covid-19 gerou uma
necessidade preeminente de ampliação da capacidade de atendimento do sistema público
de saúde e, com isso, os recursos para o SUS foram ampliados. Essa maior disponibilidade
financeira, porém, foi fruto de medidas extraordinárias e ficou restrita aos anos de 2020 e
2021. O orçamento ordinário destinado à saúde nesses anos e a LOA de 2022 explicitam
que o desfinanciamento se mantém e que a pandemia não gerou priorização da saúde da
população brasileira no interior do orçamento federal.

Classificação JEL: I18.


A teoria da inflação inercial: uma breve história
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3433

Este artigo é a história de como a teoria da inflação inercial foi desenvolvida
no Brasil no início dos anos 1980, quando a inflação era muito alta, muito superior à
estagflação ocorrida nos Estados Unidos na década anterior. Talvez esse fato explique por
que a teoria foi formulada no Brasil e não nos Estados Unidos. Os principais artigos e o
livro que definiu a nova teoria são devidamente referenciados. E o autor, que nas décadas de
1980 e 1990 foi ator político, conta também a história da aplicação da teoria, os fracassos
e acertos.

Classificação JEL: E31; B22.


Identificando a discriminação racial pelo diferencial de desempenho dos estudantes do Ensino Médio
Diego Carneiro, Maitê Shirasu, Guilherme Irffi
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3326

Brasil é marcado pela elevada desigualdade social, onde condições iniciais
têm impacto determinante na trajetória dos indivíduos. Nesse contexto, os indivíduos
negros encontram-se em dupla desvantagem, por seu menor nível de renda e a baixa
expectativa quanto ao desenvolvimento de suas potencialidades. Este artigo empregou o
método de Oaxaca-Blinder (1973) para decompor a diferença de desempenho entre alunos
brancos e negros no SAEB 2017, identificando a parte que não pode ser atribuída às suas
características. Os resultados mostraram que esse componente representa cerca de 43%
dessa diferença, e que existe menor resposta dos alunos negros às melhorias nas condições
educacionais.

Classificação JEL: I24; I25; I28.


Institucionalismo e suas relações com o desenvolvimentismo: Passado, presente e futuro
Ijean Gomes Riedo, Manoel João Ramos, Flavia Piccinin Paz Gubert, Aldi Feiden
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3346

Esta pesquisa analisa teoricamente o papel das instituições para o desenvolvimento
organizacional baseado na teoria desenvolvimentista e institucional, emergindo questões relevantes,
como: Quais foram os marcos conceituais do desenvolvimento institucional? Como
as instituições participaram da evolução econômica? Como ocorre o desenvolvimento institucional
na América Latina? Qual o modelo desenvolvimentista para o futuro? Entretanto,
não pretende defender ideologias políticas, sociais e/ou econômicas, mas debater questões
construtivas para o desenvolvimento sustentável. Neste aspecto, a pesquisa revela não bastar
políticas passivas de funcionamento mercadológico e programas de investimentos públicos
segmentados, mas uma atuação estratégica e cooperativa entre Indústria-Governo-Universidade
em prol do desenvolvimento sustentável.

Classificação JEL: D02; D23; O21; R58.