v. 23 n. 4 (2003): Oct-Dec / 2003


v. 23 n. 4 (2003)

Oct-Dec / 2003
Publicado em outubro 1, 2003

Artigo


Um novo consenso sobre a política monetária?
Edwin Le Heron
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572004-0605

Ao analisar os documentos emitidos pelo Banco do Canadá, uma política monetária original pode ser vista. A política monetária canadense tenta manter sua autonomia e, ao mesmo tempo, respeitar as taxas de câmbio flutuantes. As numerosas inovações são a base de um novo consenso sobre política monetária. Longe da regra do dilema versus discrição dos antigos métodos monetaristas e keynesianos, um novo dilema será o foco: o da credibilidade versus confiança. Aqui, as antecipações dos agentes econômicos, o comportamento dos mercados financeiros e o preço dos ativos desempenham um papel dominante. Com base no experimento inovador do Banco do Canadá durante a década de 1990, as características do Novo Consenso serão explicadas. Longe de tornar bancos centrais independentes algumas instituições de alta potência, isso os mostra como “estátuas com pés de barro”.

Classificação JEL: E50; E52; E58; N42.


Auge e decli?nio da hipo?tese dos mercados eficientes
Luiz Antônio de Oliveira Lima
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572004-0612

Eugene Fama define um mercado como eficiente se refletir totalmente as informações existentes sobre os valores fundamentais de um ativo financeiro. De acordo com essa hipótese, esse tipo de mercado coloca à disposição dos agentes as opções ótimas para investir seu dinheiro, levando a uma alocação eficiente de capital. O objetivo deste artigo é mostrar que essa condição de fato não existe na realidade econômica e, como consequência, discutir como as formas alternativas de mercado de ativos norteiam o processo de investimento. As formas alternativas de alocação implicam que os agentes econômicos não seguem o modelo ideal de “racionalidade plena”, mas seguem uma “forma fraca” consistente com as decisões que devem ser tomadas em condições de incerteza. Essa análise nos permitirá construir modelos mais realistas de mercados financeiros, considerando não apenas suas condições de normalidade, mas também as circunstâncias que explicam sua instabilidade e crises.

Classificação JEL: G3.


Mercados financeiros, choques externos e respostas a políticas: o caso do Brasil 2001
Lauro Vieira de Faria
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/10.1590/0101-31572004-0638

Este artigo avalia a resposta macroeconômica do governo brasileiro em 2001, após o surgimento de fortes eventos negativos nos setores externo e interno, com foco particular nas políticas monetária e cambial. Ele aponta que o tipo de reação macroeconômica representada pelo modelo padrão de Mundell-Fleming é de pouca importância prática em uma pequena economia aberta, englobada em dívidas denominadas em dólar e passando por uma crise de confiança como a do Brasil. A economia brasileira opera como se houvesse algum tipo de teto para a taxa de câmbio e para as taxas de juros, em um claro afastamento das premissas incorporadas no modelo “puro”. Nesse tipo de ambiente, é necessário outro conjunto de ações para combater uma taxa de câmbio perigosa, o que é comprovado pelos eventos de 2001. Embora as ações tomadas pelas autoridades monetárias tenham se mostrado bem sucedidas naquele momento, o artigo mostra que elas vieram com um considerável custos financeiros. Portanto, o artigo argumenta a favor de outro conjunto de respostas macroeconômicas que deveria ter sido preferido para evitar tais custos.

Classificação JEL: E58.


Brasil delivery: A política econômica do governo Lula
Leda Maria Paulani
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572004-0639

Este artigo discute a nova política econômica do governo brasileiro no início de 2003. Argumenta que, surpreendentemente, o governo do PT (Partido dos Trabalhadores) caiu na perversa lógica da “credibilidade”. Essa lógica implica a morte da macroeconomia e impedirá a retomada imperativa do crescimento. Além disso, demonstra que os argumentos do governo para justificar essa rendição incondicional à economia ortodoxa não fazem sentido, porque não é possível provar que a economia brasileira estava caindo no início do novo governo. Sugere também que a identificação espúria entre administração responsável e política econômica liberal pode ser apontada como uma das razões desse surpreendente resultado.

Classificação JEL: F65; G28; O54.


Conceituando globalização, identidade cultural e democracia
Jan-Erik Lane
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572003-0640

O comunitarismo oferece uma justificativa para a crescente relevância das comunidades. Sua questão-chave é também aquela que a globalização torna altamente relevante, a saber: quem somos nós? Que modo de vida desejamos apoiar? O comunitarismo sublinha a política de respeito mútuo como a reação adequada do Estado democrático ao multiculturalismo. Tal política de respeito mútuo seria verdadeiramente global. O paradoxo da globalização é que ela tanto torna a política comunitária mais saliente quanto exige, ao mesmo tempo, uma política de respeito mútuo que possa reduzir os conflitos étnicos e religiosos. A globalização aumenta a busca pela identidade comunitária. No entanto, uma política de respeito mútuo pode reduzir conflitos entre comunidades e aumentar o respeito global por diferentes culturas, onde diferentes civilizações aceitam um núcleo comum de instituições.

Classificação JEL: F2; M14.


Do Estado Keynesiano ao Estado Schumpeteriano
Wagner Leal Arienti
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572003-0642

Esta crítica visa introduzir as hipóteses de Jessop no estado pós-fordista. Com base na abordagem de regulação, o estado keynesiano e de bem-estar social é tomado como o tipo de estado ideal que sustentou o regime de acumulação fordista até os anos 1970. Para responder às crises do fordismo e do Estado keynesiano, novas políticas foram direcionadas para reformar o aparelho e as políticas do Estado. A principal hipótese de Jessop é que um estado de trabalho schumpeteriano “esvaziado” é a melhor forma de apoiar a transição pós-fordista. Apesar de apontar alguns problemas, o artigo chama atenção para os valores heurísticos das hipóteses de Jessop sobre o estado pós-fordista e suas potencialidades para orientar estudos de caso.

Classificação JEL: P1; P16.


Protecionismo em Retrospecto: Mihail Manoilescu (1891-1950?)
Roxana Bobulescu
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572003-0644

Este artigo examina a Teoria do Protecionismo de Mihail Manoilescu. Seu ponto principal era a defesa de uma proteção permanente ou geral de setores de alta produtividade, contrastando com a proteção temporária de indústrias nascentes da List. O raciocínio de Manoilescu entra em contradição. Ele argumentou que a produtividade da agricultura e a produtividade da indústria se igualariam no longo prazo. Nesse caso, a proteção não seria mais necessária. Assim, seu argumento precisa de uma suposição adicional, ou seja, custos variáveis de produção. Manoilescu mencionou a presença de retornos crescentes na indústria e retornos decrescentes na agricultura em um apêndice. Essa suposição torna sua teoria muito semelhante com o argumento de Graham e a análise mainstream contemporânea de comércio e proteção (P. Krugman, I. Magaziner e R. Reich).

Classificação JEL: B27; F10; L52; O24.


Tre?s histo?rias acerca da histo?ria
Igor Zanoni Constant Carneiro Leão, Anna Luísa Barbosa Dias de Carvalho
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572004-0648

Este artigo discute os conceitos de história coletiva e individual presentes na mente ocidental moderna: os judeus-cristãos, os materialistas e os psicanalíticos. Pensamos que, embora se relacionem dialogicamente e se pressupõem, têm algumas particularidades que os fortalecem, dando um significado maior à busca da liberdade humana e de uma ordem social mundial mais justa e democrática.

Classificação JEL: B00; Z12; Z19.


O Reino do Capital
João Antonio de Paula
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572003-0663

O artigo examina alguns aspectos constitutivos do capitalismo do ponto de vista histórico e institucional. O argumento básico desenvolvido no artigo é que a constituição de um modo de produção especificamente capitalista implica a imposição de algumas instituições cujo significado geral é a dissolução das particularidades típicas do mundo pré-moderno. O resultado desse processo é uma sociabilidade pseudo-universal, cuja principal instância é o fetichismo das mercadorias.

Classificação JEL: B14.