O objetivo deste artigo é analisar a atual fase da crise global e a forma como ela se manifesta na América Latina. A crise global é a crise capitalista mais importante desde a Segunda Guerra Mundial. É um novo tipo de crise de deflação da dívida, destacando os limites do regime de acumulação dominado pelas finanças e caracterizado pela securitização. Os países da América Latina não estão imunes à crise global. Como estabelece limites à globalização, fica clara a impossibilidade de manter a acumulação orientada para a exportação sustentada por políticas monetárias e fiscais restritivas. Desta vez, não haverá saída nos mercados externos para nenhum país. Esse fato os forçará a reestruturar os sistemas produtivos e buscar uma saída nos mercados domésticos e nos espaços regionais de integração.
Classificação JEL: E32.
Contrastando com a grande crise de 1929, as autoridades intervieram vigorosamente em 2008 para impedir a desintegração do sistema financeiro. Os governos e os bancos centrais então procuraram revisar a regulamentação prudencial em profundidade. Seria otimista, no entanto, acreditar que as medidas prudenciais, por si só, poderiam proporcionar uma recuperação econômica total, pelo menos nos países envolvidos na turbulência financeira. De fato, o colapso do 'estado de confiança' e os efeitos negativos das dívidas privadas nas decisões de consumo e investimento alimentaram forças depressivas e desafios políticos que podem se manter por um tempo, mesmo quando o setor financeiro estiver seguro. Por um lado, a desaceleração econômica e a assistência direta e indireta prestada pelos governos aos setores privados estão tendo um forte impacto nas finanças públicas, enquanto, por outro lado, as enormes quantias de dinheiro que inflaram artificialmente os preços da habitação e os produtos financeiros podem produzir pressões inflacionárias no período pós-crise, a menos que seja permitida uma nova bolha de ativos. As autoridades poderiam, portanto, enfrentar um alto desemprego em um contexto danificado de déficits públicos e pressões inflacionárias. O artigo tem como objetivo discutir esses novos desafios. A inadequação das metas de inflação e a ortodoxia fiscal em uma economia deprimida são enfatizadas e os contornos de uma política alternativa pós-keynesiana são examinados.
Classificação JEL: B22; E00; E10; E12; E13; E30; E31; E60.
O artigo investiga a recente crise financeira dentro de uma perspectiva histórica e comparativa, tendo em mente que, em última análise, é uma crise de confiança, inicialmente associada a uma cadeia de empréstimos de alto risco e inovações financeiras que se espalham por todo o sistema internacional, culminando em impressionantes perdas de riqueza. O mercado financeiro acabará se recuperando da crise, mas o resultado deve ser seguido por um conjunto diferente e mais disciplinado de instituições internacionais. Haverá uma mudança na maneira como percebemos o amplo argumento liberal de que o mercado é sempre eficiente, ou pelo menos mais eficiente do que qualquer intervenção do Estado, superando a falsa percepção de que o Estado está em oposição ao mercado. Uma profunda crise financeira traz um período de perda de riqueza e um processo de ajuste caracterizado por correções de preços (commodities e deflação do preço das ações) e efeitos reais (recessão e menor emprego), além de um período de turbulências e fim de ilusões.
Classificação JEL: G15; F33; N20.
O neoliberalismo e a globalização tiveram influência decisiva na definição de políticas públicas internas e externas na América Latina. Menos liberdades estatais, comerciais e de mercado, objetivos sociais subordinados a critérios econômicos, são parte integrante da utopia neoliberal. A estabilidade de preços foi erigida como o principal objetivo social; a substituição de importações resultou substituída pelas exportações como principal fonte de crescimento. Os resultados líquidos neoliberais aplicados à América Latina são: menor crescimento, desindustrialização, concentração de renda e empregos precários. Portanto, as políticas públicas dos países devem tentar ganhar autonomia para usar conjuntamente os mercados e a intervenção pública de maneira construtiva e inovadora.
Classificação JEL: F02; F43; O54.
Uma leitura da obra de Celso Furtado em sua conclusão abre uma visão enriquecedora da interação entre o pensamento teórico e o desvelamento da história da América Latina. Partindo de uma avaliação dos autores pré-clássicos e clássicos, Furtado delineou uma abordagem da teoria do excedente. Isso permitiria que a teoria do desenvolvimento lidasse com economias desigualmente industrializadas como o Brasil. Sua análise minuciosa dos processos de desenvolvimento e subdesenvolvimento rompeu com as experiências iniciais da ECLA para elaborar uma proposta de planejamento para o país insurgente. As raízes francesas de seu perfil acadêmico o ajudaram a manter uma explicação ordenada da demanda de capital que o manteve ao lado de Wicksell contra a teoria subjetiva de Schumpeter.
Classificação JEL: O11.
Este artigo tem como objetivo apresentar e discutir alguns dos modelos comportamentais desenvolvidos pela Psicologia Econômica, considerada um campo de pesquisa irrelevante para muitos economistas ainda. Ao destacar a convergência multidisciplinar, notadamente dos interesses dos economistas pela psicologia, enfatiza-se a discussão do papel desempenhado pelo individualismo metodológico na redução psicológica do homo economicus. Essa redução, por um lado, dificultou a conciliação entre o nível individual e o coletivo de análise. Por outro lado, aproximou economistas e psicólogos no interesse comum de desenvolver métodos capazes de compreender o comportamento econômico sob uma perspectiva que permita a integração da complexidade da dimensão coletiva da qual o indivíduo faz parte.
Classificação JEL: B5; B59.
uanta desigualdade racial existe no mercado de trabalho brasileiro? Qual foi o impacto das últimas transformações nas relações de trabalho? Podemos comparar a situação brasileira com outros países? Hoje, essas perguntas não têm uma resposta objetiva. Isto se deve, principalmente, à ausência de medidas que nos permitam fazer comparações de longo prazo e regionais de diferentes situações de desigualdades raciais. Nossa proposta é fornecer novos indicadores para avaliar as desigualdades raciais na estrutura ocupacional e de renda no Brasil. Nossos resultados mostram que as lacunas entre brancos e não-brancos aumentaram desde os anos 80. Eles nos permitem afirmar, além disso, que as desigualdades raciais são hoje piores no Brasil do que nos países que adotaram leis de ação afirmativa para combater a discriminação.
Classificação JEL: I32; J71.
A nova escola de pensamento keynesiano-estruturalista é formada por uma macroeconomia estruturalista do desenvolvimento que oferece explicações científicas ao novo desenvolvimentismo - uma estratégia nacional de desenvolvimento. Nesta intervenção, o autor delineia suas principais reivindicações e políticas teóricas.
Classificação JEL: B22; B31.
O Dossiê da Crise II foi publicado em agosto de 2010 pela Associação Keynesiana Brasileira (AKB). Neste Dossiê procura-se avaliar os desdobramentos da crise financeira internacional, no mundo em geral e no Brasil. Publicamos abaixo alguns dos artigos do referido Dossiê