v. 43 n. 1 (2023): Jan-Mar / 2023


v. 43 n. 1 (2023)

Jan-Mar / 2023
Publicado em fevereiro 28, 2023

Artigo


Política industrial, tecnonacionalismo e Indústria 4.0: a guerra tecnológica entre China e EUA
Antonio Carlos Diegues, José Eduardo Roselino
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3247

Este artigo analisa a evolução da guerra tecnológica entre China e EUA em
um contexto de exacerbamento das estratégias tecnonacionalistas de desenvolvimento
industrial e tecnológico. Esta análise concentra-se majoritariamente na estratégia chinesa
de fomento à Indústria 4.0 e nas implicações das restrições impostas pelos EUA a sua
busca pelo desenvolvimento autônomo de tecnologias centrais no paradigma em gestação.
Parte-se da hipótese de que tais políticas, ao impulsionarem as tecnologias características da
Indústria 4.0, têm como objetivo forjar um novo paradigma tecnoeconômico e reconfigurar
as bases sobre as quais se assentam a dinâmica da concorrência intercapitalista e interestatal.
A principal contribuição pretendida pelo trabalho é a análise das implicações da Guerra
Tecnológica entre China e EUA a partir da segmentação do paradigma tecno-econômico da
Indústria 4.0 em diferentes camadas, para além do debate tradicional acerca da transição
para as redes 5G.

Classificação JEL: O53; O14; O25; O33; O38; L52.


Revisitando o conceito de Desenvolvimento Econômico e a Escola de Pensamento do Desenvolvimentismo na Economia
Isaías Albertin de Moraes
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3400

O presente trabalho tem como objetivo revisitar e sistematizar os conceitos
de Desenvolvimento Econômico e o de Desenvolvimentismo. A hipótese levantada
pela pesquisa é a de que em razão da processualidade histórico-social das Ciências
Econômicas, os termos Desenvolvimento Econômico e Desenvolvimentismo
podem ser categorizados de forma distinta por opção epistemológica e didática na
atualidade. O artigo optou por realizar um estudo bibliográfico. Os procedimentos
metodológicos para selecionar as referências foram pesquisa bibliográfica focada
nos autores com análise histórica, concreta e indutiva da economia e do fenômeno
de desenvolvimento econômico. Os resultados obtidos são de que os termos
Desenvolvimento Econômico e Desenvolvimentismo podem ser categorizados
de forma distinta, o primeiro como conceito empregado por diversas escolas do
pensamento econômico; o segundo é uma Escola de Pensamento Econômico em
si e que possui quatro correntes teóricas (Desenvolvimentismo Clássico, Social
Desenvolvimentismo, Novo Desenvolvimentismo, Desenvolvimentismo Socialista
de Mercado).

Classificação JEL: B20; O10; N01.


Keynes e Hayek: alguns elementos comuns na teoria do ciclo de negócios
Alexandru Patruti
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3375

Keynes e Hayek são geralmente vistos na história do pensamento econômico
como rivais intelectuais. Embora seja verdade que, em termos de recomendações de políticas,
elas nem sempre concordam, há vários elementos teóricos que os dois economistas tendem
a compartilhar. Isso é especialmente verdadeiro se seguirmos Axel Leijonhufvud (1976) ao
considerar que o trabalho teórico fundamental de Keynes é o Tratado e não a Teoria Geral.
No início dos anos 1930, seguindo os trabalhos de Wicksell (1989), ambos explicaram os
ciclos de negócios como causados por uma discrepância entre poupança e investimento.
Eles consideraram que na economia moderna a taxa de juros não pode ajustar rapidamente
essas duas magnitudes. Até certo ponto, Keynes e Hayek chegaram a concordar com a
sequência dinâmica de preços em uma depressão “normal”. Quando a Teoria Geral foi
publicada, a preferência pela liquidez obscureceu a maioria das semelhanças entre os
dois economistas. Embora Hayek tenha introduzido a preferência pela liquidez como
um atrito de curto prazo em sua Teoria Pura do Capital de 1941, ele não podia aceitá-la
como um determinante fundamental da taxa de juros. No entanto, na década de 1970,
Hayek começou a acreditar que as crises “normais” de Hayek poderiam degenerar ainda
mais em depressões keynesianas. Ao focar no desenvolvimento teórico de Keynes antes da
elaboração da Teoria Geral em paralelo com a evolução de Hayek ao longo de sua vida,
argumentamos que uma leitura seletiva de suas obras poderia levar a um modelo teórico
em que os cenários keynesiano e hayekiano são casos específicos de uma teoria geral.

Classificação JEL: B13; B22; E12; E20; E32; E43.


Uma crítica pós-keynesiana clássica à produtividade multifatorial ajustada ao meio ambiente
Giulio Guarini
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3391

O objetivo do artigo é analisar criticamente a Produtividade Multifatorial Ajustada
ao Meio Ambiente (PMAMA), considerando o aspecto ambiental clássico-pós-keynesiano,
integrado à Economia Ambiental Evolucionária. O artigo apresenta a PMAMA
enraizada na economia neoclássica e derivada da função Cobb-Douglas com recursos naturais
construída por Solow (1974). Apresento críticas teóricas aos pressupostos neoclássicos
da PMAMA desenvolvendo perspetivas da literatura heterodoxa da Macroeconomia Ecológica.
Por fim, discuto as deficiências da estrutura conceitual da PMAMA fazendo referência
específica ao debate político sobre a Hipótese de Porter. O artigo evidencia como as premissas
de retornos constantes de escala, concorrência perfeita e substitutibilidade perfeita
de insumos alteram seriamente o significado e a promessa da política de sustentabilidade.
A análise indica que a PMAMA é um instrumento pobre para estudar questões complexas
sobre a promoção e eficácia das inovações verdes e, portanto, deve ser abandonado para
enfrentar os grandes desafios do processo de transformação ecológica.
PALAVRAS-CHAVE: Economia clássico-pós-keynesiana; produtividade multifatorial ajustada
ao meio ambiente; ecoinovação.

Classificação JEL: B12; Q55; O13.


O debate recorrente sobre o fim do trabalho com o desemprego tecnológico
Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, Rafael Acypreste
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3371

O artigo analisa uma questão recorrente sobre a perda de centralidade do
trabalho com as inovações tecnológicas e o trabalho imaterial, tanto do ponto de vista
teórico quanto empírico. Teoricamente discute a centralidade do trabalho tanto com relação
à teoria do valor-trabalho como forma de dominação social no capitalismo, quanto no que
se refere aos limites do desemprego tecnológico neste modo de produção. Empiricamente
o artigo apresenta dados mundiais e da economia brasileira sobre as principais causas do
desemprego, comparando-as com o desemprego tecnológico.

Classificação JEL: B51; J23; Z13.


A “estagnação secular” brasileira: Suas causas e uma agenda para superá-la
Fernando Ferrari Filho, Fabio Terra
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3492

O artigo tem dois objetivos. Primeiro, ele descreve e analisa as razões para a
“estagnação secular” brasileira entre 2015 e 2021. Segundo, propõe-se uma agenda de
políticas que assegure a estabilidade macroeconômica brasileira e o desenvolvimento social,
definido como crescimento econômico sustentável, inflação controlada, equilíbrios fiscal e
externo e distribuição de renda.

Classificação JEL : E12; E14; E52; E62; N16.


Ajuste do orçamento financeiro e custo de carregamento da dívida pública no Brasil 2002-2021
Gilberto Borça Jr., Nelson H. Barbosa-Filho
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3337

O artigo apresenta a decomposição dos juros líquidos pagos pelo governo brasileiro
em 2002-2021, dividindo a despesa em quatro partes: juro real, correção monetária, custo de
carregamento de ativos e resultado dos swaps cambiais. A análise também detalha o custo de
carregamento em termos dos principais ativos de renda fixa do governo brasileiro (reservas
internacionais e empréstimos ao BNDES), demonstrando que o ajuste financeiro de 2016-
-2021 reduziu o resultado primário de equilíbrio em cerca de 2,5% do PIB.

Classificação JEL: E62; H60; N16.


Apropriação, crenças e inculcação: algumas outras conexões entre o pragmatismo americano e o consumidor conspícuo de Veblen
Felipe Almeida, Manuel Ramon Luz
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3332

Thorstein Veblen foi um dos fundadores da economia institucional original.
O primeiro livro de Veblen, The Theory of the Leisure Class (1899), apresentou aos
economistas uma perspectiva interdisciplinar para compreender a tomada de decisão dos
consumidores. Essa perspectiva dependia da natureza processual dos instintos, hábitos e
instituições. As ideias de Veblen sobre o comportamento humano não eram completamente
originais e foi amplamente reconhecido que alguns de seus insights claramente fazem
referência aos ensinamentos da escola americana de filosofia pragmática. Diante disso,
nosso estudo oferece uma interpretação das ideias de Veblen sobre o comportamento do
consumidor por meio dos pontos de vista dos principais pensadores da escola pragmática
de sua época. Este estudo explora alguns temas importantes dentro do pragmatismo, como
o conceito de apropriação de William James, a compreensão de Charles Peirce sobre a
crença e o impulso social e as ideias de John Dewey sobre socialização e a inculcamento
de hábitos. Com base nessas referências, buscamos gerar novos insights sobre a perspectiva
de Veblen em relação a tomada de decisão dos consumidores em termos mais amplos e, ao
mesmo tempo, preservar suas principais referências filosóficas.

Classificação JEL: B15; B52.


O governo Rousseff e o populismo econômico: uma interpretação
Ivan Colangelo Salomão, Beliza Borba de Almeida
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3327

O artigo tem por objeto a política econômica do governo Rousseff. Partindo-se
dos principais modelos teóricos sobre o fenômeno do populismo econômico, analisam-se
as principais medidas de política instrumental (fiscal, monetária e cambial) adotadas no
período. Assim, refuta-se a hipótese de que a sua gestão se enquadre no referido conceito
como entendido pela literatura.

Classificação JEL: E0; E5; H2.


Sobreapreciação da taxa de câmbio e transferências intersetoriais da renda fundiária no Uruguai: 1955-2019
Gabriel Oyhantçabal Benelli
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3259

Utilizando uma metodologia inovadora, este trabalho mede o valor das
transferências intersetoriais da renda fundiária no Uruguai e seu peso relativo no valor
nacional da mais-valia durante o período 1955-2019. Para tanto, o artigo identifica os
mecanismos pelos quais a renda fundiária é transferida dos proprietários para os capitais
industriais e comerciais. Os principais resultados mostram que as transferências da renda
fundiária, em particular por meio da sobrevalorização da taxa de câmbio, foi um mecanismo
recorrente e central para a acumulação de capital. Essas transferências complementam a
mais-valia apropriada pelos capitais individuais, porém, ao mesmo tempo, consolidam o
caráter rentista do Uruguai devido à sobrevalorização crônica da taxa de câmbio.

Classificação JEL: B51; O13; O54; Q19; N16.


Circulação de ideias e política monetária no Brasil: presença dos membros do Conselho Monetário Nacional em think tanks (1995-2018)
Mateus C. M. de Albuquerque, Pedro Rodrigues Alves
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3266

Este trabalho tem por objeto a presença de membros do Conselho Monetário
Nacional (CMN) em think tanks a partir de 1995. Quanto a este objeto, testamos a hipótese
de que há vinculação de fato entre os membros do CMN e think tanks. A pesquisa levanta
também duas outras hipóteses auxiliares: os think tanks funcionam como mecanismo de
entrada para os cargos, aparecendo anteriormente na trajetória do Conselheiro; e que os
membros do Conselho de perfil ideacional ortodoxo tendem a participar mais de think
tanks que os demais.

Classificação JEL: A14.


Estruturas desmontadas: a economia política do principal setor de exportação de automóveis do México
James M. Cypher, Mateo Crossa
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3370

A atual economia exportadora do México surgiu da adoção de um modelo de
mercado baseado em condições de desarticulação tecnológica que separam as empresas
transnacionais dominantes da base industrial nacional. Isso determinou que, ao contrário
da análise de Verdoorn, o setor manufatureiro crucial funcionaria não como uma força
motriz indutora de um processo de desenvolvimento nacional autônomo, acelerando
o crescimento da produtividade e promovendo inovações de produtos e processos, mas
aprofundaria um processo de produção fragmentado, centrado no processamento de
componentes importados em condições de declínio da produtividade total dos fatores.
Apesar do profundo reordenamento de sua geografia econômica nos últimos 30 anos, esse
processo não conseguiu produzir marcadores legítimos de “atualização”.

Classificação JEL: E23; F23; F63; L62; N16.


Gastos sim, progressividade não: os entraves para a redistribuição no Brasil
Fernanda Cimini, Laura Rocha
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3381

Este artigo se propõe a investigar a trajetória do debate sobre redistribuição e tributação
no Brasil no período pós-redemocratização, identificando fatores potencialmente
favoráveis a reformas de caráter progressivo, bem como os obstáculos para sua implementação.
Portanto, busca-se compreender, especificamente, a resiliência de um sistema tributário
injusto em uma das democracias mais desiguais do mundo. A partir da literatura sobre
o tema, propõe-se algumas hipóteses exploratórias que são analisadas de forma preliminar
e indireta por meio da identificação de elementos sobre desigualdade e reforma tributária
nas plataformas dos governos de Collor a Bolsonaro.

Classificação JEL: H2; O15; P00.


O papel do Estado na regulação do investimento direto na China
Paula Carvalho, Isabela Nogueira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3404

Este artigo pretende corroborar o argumento defendido por economistas heterodoxos
como Akyüz, Chang e Furtado de que a regulação estatal é fundamental para extrair
eventuais benefícios dos investimentos diretos no país (IDP). Fazemos isso analisando as políticas
usadas pela China desde sua abertura para este tipo de investimento em 1979. O artigo
inova ao examinar as principais leis, regulamentos e catálogos de orientação do IDP na China
que forneceram a estrutura formal sob a qual empresas estrangeiras operaram no país por
quase 40 anos. Em seguida, confrontamos a visão tradicional de que a China se desenvolveu
simplesmente porque abriu cada vez mais seu mercado e adotou um modelo de crescimento
puxado pelo investimento estrangeiro. E argumentamos que foi por causa da forte regulação
que o IDP teve de fato um efeito positivo, contribuindo para a transferência de tecnologia e a
expansão do comércio – sem, no entanto, definir a taxa de acumulação de capital.

Classificação JEL: O16.


Os efeitos da infraestrutura e do investimento público na elasticidade do investimento privado: uma investigação empírica para o Brasil
Jefferson S. Fraga, Helder Lara Ferreira-Filho
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3383

Aplicando a abordagem Bayesian Model Averaging e Weighted-Average Least-
Squares em um modelo do acelerador flexível de investimento e usando técnicas de
filtragem de Kalman, este estudo estima os determinantes das elasticidades do investimento
privado e do investimento total para a economia brasileira para o período entre 1960
e 2013. Concluímos que o índice agregado de infraestrutura, retirado da análise de
componentes principais, e o investimento público estimulam o investimento privado. Os
resultados também indicam que o investimento privado é limitado pela disponibilidade de
crédito bancário. Além disso, é constatado que o estoque de infraestrutura e o investimento
público são dois dos principais determinantes das elasticidades do investimento privado.
Isso confere ao investimento público, principalmente em infraestrutura, grande importância
para elevar a sensibilidade do investimento privado na economia brasileira.

Classificação JEL: H54; O40; E20.


Tarifas de importação: o argumento da neutralização da doença holandesa
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572023-3442

Em teoria econômica, há apenas um argumento que legitima as tarifas de
importação – o argumento da indústria nascente –, mas ele deixa de ser válido quando
o tempo de aprendizado necessário termina. Esta nota oferece um segundo argumento: o
argumento da neutralização da doença holandesa. Se o país enfrentar essa desvantagem
competitiva, tarifas de importação e subsídios à exportação podem ser uma forma de
contornar o problema. Muitos países que se industrializaram só tiveram sucesso porque
neutralizaram pragmaticamente a doença com tarifas de importação.

Classificação JEL: F10; F43.